A incidência da infeção pelo VIH é elevada nos homens gay que fizeram profilaxia pós-exposição (PPE), segundo reportam os investigadores de Amesterdão no edição online da AIDS. No geral, as pessoas que usaram PPE tinham quatro vezes mais probabilidade de se infetarem pelo VIH do que os homens gay que nunca tinham sido utilizado este tratamento.
Não houve nenhuma evidência de que a PPE seja a causa. Os investigadores acreditam que tal é devido ao facto de as pessoas que usaram PPE manterem o risco de contrair a infeção após completarem o tratamento.
“O nosso estudo demonstra uma elevada incidência da infeção pelo VIH entre os HSH (homens que têm sexo com homens) que usaram PPE, uma indicação do permanente comportamento de risco”, escrevem os investigadores. “Tal implica que a PPE isolada para este grupo não é suficiente na prevenção da infeção pelo VIH, e que combinar outras estratégias mais abrangentes é necessário.”
A profilaxia pós-exposição para a infeção pelo VIH consiste no tratamento com medicamentos antirretrovirais pelo período de quatro semanas, prescrito após troca de fluidos possivelmente infetados pelo VIH.
É previsto que o tratamento reduza o risco de infeção até 81%.
Os homens gay são o grupo com maior probabilidade de fazer PPE após uma possível exposição à infeção pelo VIH. A investigação australiana demonstrou que os homossexuais que fizeram PPE continuaram a ter comportamentos de risco após completarem o tratamento.
Desta forma, os investigadores holandeses compararam a incidência da infeção pelo VIH dos homens gay que fizeram o tratamento em Amesterdão, entre 2000 e 2009, à taxa de novas infeções observadas durante o mesmo período entre os homens gay recrutados no estudo coorte de Amesterdão.
Um total de 355 homens que receberam a prescrição da PPE foi incluído no estudo. A maioria teve formação sobre PPE, e a aproximadamente 10% dos homens foi disponibilizada múltiplas prescrições (duas a quatro).
As taxas de adesão foram elevadas, com 94% dos homens a completar o tratamento. O estatuto serológico para o VIH foi monitorizado três e seis meses após o início.
Onze pessoas sob PPE seroconverteram. Dois homens tiveram resultado positivo para a infeção pelo VIH no período dos três meses de acompanhamento; um homem que faltou à consulta do terceiro mês foi diagnosticado no sexto; e os restantes oito estavam seronegativos para a infeção pelo VIH no terceiro mês mas tiveram um resultado positivo ao sexto mês.
Estes dados indicam uma incidência de 6,4 por 100 pessoas/ano entre as pessoas sob PPE.
A comparação com a população consistiu em 782 homens monitorizados no estudo coorte de Amesterdão durante o mesmo período. No total, 67 destes homens seroconverteram, dando uma taxa de incidência de 1,6 por 100 pessoas/ano.
Os investigadores calcularam que os homens com PPE prescrita tinham quase quatro vezes mais probabilidade de seroconverterem do que os homens gay do estudo coorte que não tinham feito o tratamento (IRR = 3.9; 95% CI, 2.1-7.4).
“Não podemos excluir de todo a eficácia da PPE no estudo”, comentam os investigadores. Contudo, pensam que tal é pouco provável.
Explicam que “a maioria das seroconversões tiveram resultados negativos 3 meses após a prescrição da PPE, indicando que a transmissão da infeção pelo VIH não foi provavelmente devida ao contacto inicial para qual a PPE foi prescrita.”
Acrescentam que “a maioria das pessoas que seroconverteram no estudo atual reportaram ao pessoal técnico…que continuaram a ter com comportamentos de risco após a prescrição da PPE.”
A PPE isolada pode ser insuficiente na prevenção da infeção pelo VIH no grupo de risco dos homens gay, comentam os autores. Advogam uma abordagem “combinada na prevenção” para estas pessoas, incluindo aconselhamento e profilaxia pré-exposição (PrEP). “OS HSH que usam PPE podem ser bons candidatos para os ensaios de intervenção com PrEP.”